Meu nome é Mariana, escrevo para falar sobre o Pinóquio do Asfalto. Este livro tem algo mágico, diferenciado, faz a gente pensar. Meu pai é militar, daqueles rigorosos. Na semana passada ele viu o meu Pinóquio do Asfalto em cima da mesa da sala e, quando eu menos esperava, lá estava ele lendo o seu livro. Em vez de olhar para a TV fiquei vendo as expressões que ele fazia, ora franzia a testa, ora erguia as sobrancelhas, ora torcia a boca, era uma academia de expressões faciais. Embora eu ainda estivesse lendo o capítulo 4 eu preferi deixar que ele terminasse a leitura. Quando ele terminou colocou o livro no colo, olhou para cima e ficou pensando. Provavelmente nos pivetes que ele tanto reclama quando estamos jantando. Acho que o livro o fez enxergar por outro lado o problema de nossa sociedade. Ele ficou analisando seus pensamentos, abrindo cada gavetinha de dentro de seu crânio e ali permaneceu desconectado de nosso mundo por vários e vários minutos. Depois, ele colocou o livro de volta na mesa da sala e me perguntou se eu já havia terminado a leitura. Disse que não, já imaginando ele falar que tudo isso era besteira, fantasia, que os meninos são marginais irrecuperáveis. Puro engano. Ele falou que o livro era muito bom e que ia querer conversar comigo depois que eu terminasse de ler. Ele levantou-se e foi tomar banho e fazer outras coisas, mais tarde, ele voltou e perguntou: já terminou de ler? Eu respondi que sim, aí ele disse que queria conversar comigo. Sentamos juntos e ele me disse que essa história conseguiu tocar seu coração. Isso me deixou assustada, nunca imaginei que o coração de pedra de meu pai fosse ser tocado por algo tão avesso à sua realidade. Eu até brinquei, perguntei se ele estava passando bem, ele me repreendeu e disse que era um assunto sério, que se o Brasil cuidasse melhor de nossas crianças, essa realidade não seria algo tão difícil de lidar. Ele me disse que iria comprar seu livro para dar para um menino que cheira cola na região do centro de São Paulo, ele disse que esse menino dava muito trabalho, que ele era muito amargurado e precisava acreditar que a mudança é possível e que é preciso ser corajoso para enfrentar seus problemas, como o menino do livro. Eu questionei: pai, você vai dar um livro para quem nem sabe ler direito? Ele me respondeu: Não, eu vou dar uma esperança para quem nem saber viver direito. É, o livro ensinou o meu pai a enxergar com outros olhos os meninos de rua e me ensinou a enxergar melhor o meu pai. Parabéns pelo seu livro, lindo e educativo para qualquer idade!
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