Mais um depoimento interessante, traz o valor da sabedoria.
"Eu ainda não li seu livro Pinóquio do Asfalto (estou desempregado), mas tenho acompanhado os depoimentos no Facebook. Mas, na semana passada eu estava na Praça da Luz, na Estação da Luz e vi um senhor velho lendo seu livro, sentei do lado dele e puxei conversa. Perguntei se ele estava gostando do livro, ele respondeu que era a terceira vez que lia o livro. Eu falei: terceira vez? Ele fechou o livro e respondeu: a leitura de uma boa história oferece mais do que um momento de diversão, são lentes que nos fazem enxergar mais além. Esse livro é um poderoso telescópio que faz com que a gente enxergue outros mundos, muitos deles debaixo do nosso nariz.
Por alguns segundos eu fiquei olhando nos olhos do senhor, eram embaçados. Ele olhou nos meus olhos e falou: você deve achar que sou cego, mas não sou, vou operar da catarata estou esperando, o sistema de saúde do governo é bem lerdo, por isso, eu leio para rechear a minha mente, se eu ficar cego de uma hora para a outra, vou beber na fonte da memória.
Eu perguntei por que ele gostava do seu livro e ele me falou ainda sem parar de olhar nos meus olhos. Ele disse: atrás de mim deve ter um pobre homem com roupas encardidas, cabelos e barba enormes. Parece que ele tem 50 anos de idade, mas só tem 28. Bastou uma pessoa para fazer isso com ele, alguém que lhe convenceu a usar drogas, para que uma sociedade inteira virasse as costas para ele. Mais para o fundo do parque tem uma menina que acho que é menor de idade que se prostitui para comprar crack. A sociedade faz de conta que ela não existe. E aqui em frente a estação há meninos que pedem dinheiro ou roubam porque foram colocados para fora de casa como se fossem sacos de lixos para serem coletados. Esse livro fala um pouco de cada um desses meninos, um pouco do mendigo e da prostituta arrastados pela droga. Eu mesmo sei como é viver nas ruas, quando eu cheguei a São Paulo eu acabei embaixo de um viaduto, eu tinha catorze anos, eram outros tempos, mas provei de tudo e apanhei da polícia, de marginais e até usei drogas, mas eu não tinha vindo para cá para virar lixo, no lugar de pedir moedas eu pedi um emprego e consegui. Comecei como servente de pedreiro, morava na obra, fui me erguendo. Agora já estou velho, não tenho muito dinheiro, sou aposentado e penso muito no passado. Quando eu li este livro pela primeira vez eu me senti tocado, fiquei emocionado, pensei nos meninos, nos mendigos e nas prostitutas que não vivem, apenas se viram, é um livro verdadeiro.
Eu não sabia o que dizer, ele me deixou emocionado. Ele deu uma pausa e olhou para mim com seus olhos embaçados e falou: Talvez amanhã ou depois eu não esteja mais aqui, mas sei que estarei aqui! Disse o homem tocando a minha testa com um de seus dedos. Aqui! Falou tocando no meu peito, onde está o coração e finalizou dizendo: E aqui, apontando para o seu livro. Fiquei emocionado, saí da praça como se eu tivesse aprendido mais naquela conversa do que na vida toda.
Marcelo de Oliveira"
"Eu ainda não li seu livro Pinóquio do Asfalto (estou desempregado), mas tenho acompanhado os depoimentos no Facebook. Mas, na semana passada eu estava na Praça da Luz, na Estação da Luz e vi um senhor velho lendo seu livro, sentei do lado dele e puxei conversa. Perguntei se ele estava gostando do livro, ele respondeu que era a terceira vez que lia o livro. Eu falei: terceira vez? Ele fechou o livro e respondeu: a leitura de uma boa história oferece mais do que um momento de diversão, são lentes que nos fazem enxergar mais além. Esse livro é um poderoso telescópio que faz com que a gente enxergue outros mundos, muitos deles debaixo do nosso nariz.
Por alguns segundos eu fiquei olhando nos olhos do senhor, eram embaçados. Ele olhou nos meus olhos e falou: você deve achar que sou cego, mas não sou, vou operar da catarata estou esperando, o sistema de saúde do governo é bem lerdo, por isso, eu leio para rechear a minha mente, se eu ficar cego de uma hora para a outra, vou beber na fonte da memória.
Eu perguntei por que ele gostava do seu livro e ele me falou ainda sem parar de olhar nos meus olhos. Ele disse: atrás de mim deve ter um pobre homem com roupas encardidas, cabelos e barba enormes. Parece que ele tem 50 anos de idade, mas só tem 28. Bastou uma pessoa para fazer isso com ele, alguém que lhe convenceu a usar drogas, para que uma sociedade inteira virasse as costas para ele. Mais para o fundo do parque tem uma menina que acho que é menor de idade que se prostitui para comprar crack. A sociedade faz de conta que ela não existe. E aqui em frente a estação há meninos que pedem dinheiro ou roubam porque foram colocados para fora de casa como se fossem sacos de lixos para serem coletados. Esse livro fala um pouco de cada um desses meninos, um pouco do mendigo e da prostituta arrastados pela droga. Eu mesmo sei como é viver nas ruas, quando eu cheguei a São Paulo eu acabei embaixo de um viaduto, eu tinha catorze anos, eram outros tempos, mas provei de tudo e apanhei da polícia, de marginais e até usei drogas, mas eu não tinha vindo para cá para virar lixo, no lugar de pedir moedas eu pedi um emprego e consegui. Comecei como servente de pedreiro, morava na obra, fui me erguendo. Agora já estou velho, não tenho muito dinheiro, sou aposentado e penso muito no passado. Quando eu li este livro pela primeira vez eu me senti tocado, fiquei emocionado, pensei nos meninos, nos mendigos e nas prostitutas que não vivem, apenas se viram, é um livro verdadeiro.
Eu não sabia o que dizer, ele me deixou emocionado. Ele deu uma pausa e olhou para mim com seus olhos embaçados e falou: Talvez amanhã ou depois eu não esteja mais aqui, mas sei que estarei aqui! Disse o homem tocando a minha testa com um de seus dedos. Aqui! Falou tocando no meu peito, onde está o coração e finalizou dizendo: E aqui, apontando para o seu livro. Fiquei emocionado, saí da praça como se eu tivesse aprendido mais naquela conversa do que na vida toda.
Marcelo de Oliveira"
Obrigado Marcelo por compartilhar esta sua experiência.
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