Recebemos mais um depoimento emocionante, motivado pela postagem de Luan Paganarde que contou um pouco de sua história. Assim, um rapaz que não quis se identificar, mas procurou desabafar, relatou a sua sofrida vida e a relação estreita com a história do livro Pinóquio do Asfalto:
"Quero aproveitar para falar também da minha infância. Eu gostaria de deixar meu nome, mas eu tenho medo, porque eu passei um bom tempo nas ruas. Minha mãe, pelo que contam, era viciada e engravidou não se sabe de quem e me colocou no mundo. Na realidade ela me largou no lixo e fui encontrado em uma pilha de lixo na região da estação Armênia do metrô. Quem me encontrou foi uma moradora de rua que morava em um prédio abandonado junto com mais um monte de gente e ali fui crescendo. Quando eu tinha cinco anos, a polícia fez com que todos que moravam ali fossem jogados na rua porque o dono do prédio queria desocupar o lugar. Fiquei por três anos passando fome, frio e raiva embaixo de viadutos, onde respirávamos gás de escapamento de carros. Minha mãe acabou pegando pneumonia e morrendo, eu fiquei sozinho de novo. Foi aí que me juntei a outros meninos para fazer o que não podia, não devia. Um homem que tinha três filhos me levou para matricular na escola, mas eu não tinha documentos. A escola me ajudou, lá tinha comida, fui aprendendo a escrever e ler, mas na rua aprendendo a usar drogas, roubar, a machucar pessoas e fazer sexo por dinheiro. Infelizmente tem gente que só quer fazer sexo com crianças. Eu também comecei a fazer sexo com outras crianças, isso era comum com a gente. Depois de um tempo, quando eu já tinha 13 anos engravidei uma menina que era mais velha que eu e vivia aparecendo na cracolândia, ela não morava na rua, mas foi tirar a criança e morreu por causa do aborto. Tinha um padre que me ajudava, dava comida quando eu não ia na escola. Quando a polícia chegou na cracolândia eu apanhei muito. Ficamos rondando na cidade como zumbis dos filmes que eu via da porta das Casas Bahia, sem saber pra onde ir. Depois de uns dias que a cracolândia acabou, eu roubei comida em um supermercado, apanhei dos seguranças e fui detido na Fundação, até que eu fiquei de maior. Hoje quem me ajuda é o mesmo padre que me ajudava antes e algumas pessoas da igreja, esta carta foi uma senhora da igreja que me ajudou a escrever comigo, ela corrigiu meus erros, porque ainda não terminei a escola. Ela tem um bom coração. Ela digitou para mim. Foi ela também que comprou seu livro e me ajudou a ler, porque eu não sei ler muito bem, tem palavras que são difíceis. O padre e o pessoal da igreja estão me ajudando, acho que é por isso que dizem que a igreja é a casa de Deus. Aqui eu me sinto um menino de verdade, um homem de verdade, e sei que se Deus me colocou no mundo e se a minha mãe me colocou no lixo, aqui eu posso voltar para o mundo com a ajuda dessas pessoas que têm Deus em seu coração e por um escritor tão fantástico que é você, que escreveu Pinóquio do Asfalto para que o mundo olhe para nós, que veja como é a nossa vida. Nós só queremos ser amados. Não temos culpa de mães que abandonam, de pais que não conhecemos ou de qualquer tipo de pessoa que não nos queiram bem, como os policiais que vivem batendo na gente sem mais nem menos. Eu sei que fiz coisas muito errada, na igreja eu larguei as drogas, pedi perdão pela pessoas que machuquei com a minha faca, sei que ninguém morreu, mas eu fiz essa maldade e não vou fazer nunca mais. Deus está comigo! Rezo sempre para ajudar as outras pessoas que vivem na rua, os novos Pinóquios que nascem todos os dias. E rezo para que neste mundo outras pessoas olhem pra gente como você fez."
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Eu sou de família tradicional alemã, típica daqui de Santa Catarina e decidi também dar meu desabafo, como o garoto que contou sua história na outra postagem.
ResponderExcluirEu não nasci pobre, sem-teto, muito pelo contrário, mas fui morar na rua depois que o meu pai descobriu que eu era homossexual. Nunca vou me esquecer da frase que ele disse: Lugar de lixo é no lixo. Você não é meu filho, deve ter sido trocado na maternidade e disse uma centena de palavrões. Ele me espancou e eu fui parar na rua só com a roupa do meu corpo. Minha mãe e minha irmão não fizeram nada. Isso doeu demais.
Na rua me tornei promíscuo, vulgar, usuário de drogas e tive duas overdoses que quase me mataram. Eu fui estuprado várias vezes por homens da rua e por gente que se dizia de bem. Infelizmente, o gay não é respeitado nem por mendigos.
Peguei várias doenças e transmiti muitas também, não sei como não peguei AIDS. Foi em um albergue que acabei dizendo para mim mesmo que não ia deixar aquilo continuar daquele jeito. Decidi me travestir e me prostituir em regiões mais ricas. Apanhei, bati, me machucaram e eu machuquei também. Mas, pelo menos, consegui um pouco de respeito. Depois de oito anos na rua, você já viu de tudo, já fez de tudo e sabe que vai ter que fazer muito mais. Certa vez um grupo de homofóbicos me espancou depois de um jogo entre Grêmio e Figueirense, fui parar no hospital, foi aí que conheci um médico maravilhoso. Ele foi muito bom comigo. No final, ele me deu o cartão dele, da clínica onde ele atendia. Depois de algumas conversas e alguns encontros, começamos a namorar e estamos morando juntos desde 20 de março 2012. Eu voltei a estudar no ano passado, estou fazendo enfermagem. Na semana passada o meu amor me deu seu livro e ainda brincou dizendo que o livro deveria ter uma outra versão chamada de Bonequinha de Luxo do Asfalto, em minha homenagem. Me senti a verdadeira Audrey Hepburn! Agora eu não me travisto mais, vivemos juntos e somos discretos. Ele está me ajudando a me livrar das drogas, essa está sendo a parte mais difícil. Ontem eu li seu livro e achei lindo! Maravilhoso! Uma lição de vida. Por isso, eu gostaria que você escrevesse um outro, com o contexto do sofrimento dos homossexuais quando são expulsos de casa para morar na rua. Se cada cicatriz do meu corpo fosse uma página de um livro, eu teria páginas suficientes para escrever um romance. Não precisa se chamar Bonequinha de Luxo do Asfalto, mas mostrar para o mundo que os gays também tem sentimentos.
Amigo, sua história também me emocionou. Em muitos momentos fiquei triste pelo seu sofrimento e pela forma como a sociedade te abandonou.
ResponderExcluirEstou feliz por você ter encontrado sua felicidade. Espero que daqui para frente sua vida seja abençoada.