Sou professora aposentada. Há uns cinco anos eu conheci um menino de rua que morava perto de casa, no centro de São Paulo. Em primeiro lugar, ele era um menino de doze anos, negro, magricelo, com pernas finas que pareciam meus braços mirrados. Mas era forte, sempre me ajudava a carregar sacolas na ladeira da Conselheiro Carrão que eu tinha que subir para levar as compras da feira. Ao final eu dava dois reais para ele. Não sabia o nome dele, ele tinha um apelido, chamavam-no de Tiziu, o nome de um passarinho preto. Ele gostava. Ele brincava, pulava, corria, aprontava. Tinha um japonês da feira com quem ele gostava de aprontar, roubava mexerica para comer, mas também para ver o japonês xingar numa língua que achava engraçada. Certa vez um freguês o segurou assim que ele pegou a fruta e o japonês bateu nele por causa disso. Eu assisti àquela cena e disse indignada que era para ele dar sempre uma fruta para o Tiziu que eu pagaria. Ninguém rouba comida se não for por fome, eu disse a ele. Acho que o japonês acabou entendendo. Sei que roubar é errado, mas uma criança não pode trabalhar para ter o que comer, não é mesmo? Eu cheguei a perguntar sobre sua família, ele levantava os ombros, fazia cara triste e não falava. Eu entendia como um “não quero falar a respeito”. Então eu não dizia mais nada. Quando estava com catorze anos, Tiziu foi morto, dizem que foi bala perdida. Eu não acredito. Ele, como várias crianças abandonadas são vistas como um problema para a sociedade, conheço muita gente que diz que o Estado deveria fazer uma “faxina moral” na cidade e acabar com os moradores de rua. Isso é cruel, são as mesmas pessoas que vejo apoiando politicamente pessoas que humilham mulheres, gays, negros, índios e ainda querem o porte de arma liberado. Tenho certeza que elas mesmas farão essa “faxina fascista e nazista” em nosso país. São genocidas! No lugar de exterminar a pobreza, eles pregam exterminar os pobres. É cruel demais! O livro Pinóquio do Asfalto me fez pensar muito a respeito da sociedade em que vivemos, ele nunca foi tão apropriado quanto para o momento que vivemos, que descobrimos muitos monstros adormecidos diante de pessoas comuns. Recomendo que todas as escolas que realmente querem educar, que leiam e debatam a respeito deste livro que além de emocionar, faz pensar. E pensar é o cerne da sabedoria.
Sou professora aposentada. Há uns cinco anos eu conheci um menino de rua que morava perto de casa, no centro de São Paulo. Em primeiro lugar, ele era um menino de doze anos, negro, magricelo, com pernas finas que pareciam meus braços mirrados. Mas era forte, sempre me ajudava a carregar sacolas na ladeira da Conselheiro Carrão que eu tinha que subir para levar as compras da feira. Ao final eu dava dois reais para ele. Não sabia o nome dele, ele tinha um apelido, chamavam-no de Tiziu, o nome de um passarinho preto. Ele gostava. Ele brincava, pulava, corria, aprontava. Tinha um japonês da feira com quem ele gostava de aprontar, roubava mexerica para comer, mas também para ver o japonês xingar numa língua que achava engraçada. Certa vez um freguês o segurou assim que ele pegou a fruta e o japonês bateu nele por causa disso. Eu assisti àquela cena e disse indignada que era para ele dar sempre uma fruta para o Tiziu que eu pagaria. Ninguém rouba comida se não for por fome, eu disse a ele. Acho que o japonês acabou entendendo. Sei que roubar é errado, mas uma criança não pode trabalhar para ter o que comer, não é mesmo? Eu cheguei a perguntar sobre sua família, ele levantava os ombros, fazia cara triste e não falava. Eu entendia como um “não quero falar a respeito”. Então eu não dizia mais nada. Quando estava com catorze anos, Tiziu foi morto, dizem que foi bala perdida. Eu não acredito. Ele, como várias crianças abandonadas são vistas como um problema para a sociedade, conheço muita gente que diz que o Estado deveria fazer uma “faxina moral” na cidade e acabar com os moradores de rua. Isso é cruel, são as mesmas pessoas que vejo apoiando politicamente pessoas que humilham mulheres, gays, negros, índios e ainda querem o porte de arma liberado. Tenho certeza que elas mesmas farão essa “faxina fascista e nazista” em nosso país. São genocidas! No lugar de exterminar a pobreza, eles pregam exterminar os pobres. É cruel demais! O livro Pinóquio do Asfalto me fez pensar muito a respeito da sociedade em que vivemos, ele nunca foi tão apropriado quanto para o momento que vivemos, que descobrimos muitos monstros adormecidos diante de pessoas comuns. Recomendo que todas as escolas que realmente querem educar, que leiam e debatam a respeito deste livro que além de emocionar, faz pensar. E pensar é o cerne da sabedoria.
ResponderExcluirProfa. Márcia Camargo