Olá, eu não vou me identificar, hoje eu tenho um emprego e família, não quero colocar nada em risco. Mas eu quero contar minha história. Eu tenho lido muitos depoimentos na página do livro Pinóquio do Asfalto, no final do ano acabei lendo o livro que minha cunhada me deu de presente. Achei a história muito bonita e cheia de verdades. Eu morei na rua por um bom tempo, quando ainda era uma criança, logo depois que minha mãe morreu. Fiz coisas que me envergonho, mas também que eu me orgulho. Uma vez eu estava com outros moleques na rua, nós estávamos com fome e fomos numa feira para tentar conseguir alguma coisa pra comer. Um dos meus amigos pegou um tomate em uma banca e depois saímos correndo, eu já tinha ganhado uma maçã toda zoada do homem das frutas, era o que tínhamos para comer, até que chegamos numa barraca de pastel e uma mulher negra de cabelos brancos pagou um pastel para cada um de nós quatro. Quando nós estávamos comendo, um policial chegou e deu um tapão na cabeça do meu amigo que tinha pegado o tomate, e ele deixou cair o pastel dele no chão. O policial pisou no pastel dele. O policial estava com o japonês da banca do tomate, que ficou chamando a gente de ladrão. O policial deu um tapa em mim também, arrancou o pastel da minha mão, jogou no chão e também pisou em cima. A mulher que pagou o pastel pra gente ficou brava e brigou com o policial, que disse pra ela não se meter, que ela não devia ficar pagando pastel pra trombadinha e marginal. Meu amigo ficou tão nervoso que entrou na barraca, pegou uma faca e espetou na barriga do policial enquanto a mulher brigava com ele e o japonês. Nós corremos e mesmo machucado ele veio atrás da gente e atirou, acertando um dos meus amigos, que não morreu porque a gente cuidou, mas ficou com problema na perna e não anda direito por causa disso. Coitado dele, não foi ele que pegou o tomate. Por pouco alguém não morreu por causa de um tomate. Eu achei muito importante você trazer essa história pra gente, nós que já fomos Pinóquios do Asfalto sabemos muito bem isso, que a sociedade é cruel. Eu saí das ruas quando já tinha 13 anos, depois que meu pai voltou de Alagoas e me achou, ele nem sabia que minha mãe tinha morrido, eles não moravam juntos. Eu cresci, me casei e tenho dois filhos. Mesmo tendo sido o meu pai que me tirou da rua, para mim ele parecia um estranho, eu nunca tinha visto ele antes, pelo menos que eu me lembro. Por isso eu falo que quem vive na rua só precisa que alguém estenda a mão para sair dessa situação. Obrigado.
Olá, eu não vou me identificar, hoje eu tenho um emprego e família, não quero colocar nada em risco. Mas eu quero contar minha história.
ResponderExcluirEu tenho lido muitos depoimentos na página do livro Pinóquio do Asfalto, no final do ano acabei lendo o livro que minha cunhada me deu de presente. Achei a história muito bonita e cheia de verdades. Eu morei na rua por um bom tempo, quando ainda era uma criança, logo depois que minha mãe morreu. Fiz coisas que me envergonho, mas também que eu me orgulho. Uma vez eu estava com outros moleques na rua, nós estávamos com fome e fomos numa feira para tentar conseguir alguma coisa pra comer. Um dos meus amigos pegou um tomate em uma banca e depois saímos correndo, eu já tinha ganhado uma maçã toda zoada do homem das frutas, era o que tínhamos para comer, até que chegamos numa barraca de pastel e uma mulher negra de cabelos brancos pagou um pastel para cada um de nós quatro. Quando nós estávamos comendo, um policial chegou e deu um tapão na cabeça do meu amigo que tinha pegado o tomate, e ele deixou cair o pastel dele no chão. O policial pisou no pastel dele. O policial estava com o japonês da banca do tomate, que ficou chamando a gente de ladrão. O policial deu um tapa em mim também, arrancou o pastel da minha mão, jogou no chão e também pisou em cima. A mulher que pagou o pastel pra gente ficou brava e brigou com o policial, que disse pra ela não se meter, que ela não devia ficar pagando pastel pra trombadinha e marginal. Meu amigo ficou tão nervoso que entrou na barraca, pegou uma faca e espetou na barriga do policial enquanto a mulher brigava com ele e o japonês. Nós corremos e mesmo machucado ele veio atrás da gente e atirou, acertando um dos meus amigos, que não morreu porque a gente cuidou, mas ficou com problema na perna e não anda direito por causa disso. Coitado dele, não foi ele que pegou o tomate. Por pouco alguém não morreu por causa de um tomate.
Eu achei muito importante você trazer essa história pra gente, nós que já fomos Pinóquios do Asfalto sabemos muito bem isso, que a sociedade é cruel. Eu saí das ruas quando já tinha 13 anos, depois que meu pai voltou de Alagoas e me achou, ele nem sabia que minha mãe tinha morrido, eles não moravam juntos. Eu cresci, me casei e tenho dois filhos. Mesmo tendo sido o meu pai que me tirou da rua, para mim ele parecia um estranho, eu nunca tinha visto ele antes, pelo menos que eu me lembro. Por isso eu falo que quem vive na rua só precisa que alguém estenda a mão para sair dessa situação. Obrigado.